Segunda-feira, 07 de abril de 2014
Última Modificação: 09/06/2020 16:50:07 | Visualizada 239 vezes
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Parlamentares governistas, alguns do próprio PT, pressionam para que o paranaense se licencie da vice-presidência da Casa
Diante das pressões da oposição e, nos bastidores, de integrantes da própria base governista, especialmente do PT, o deputado paranaense André Vargas (PT) deverá se licenciar do cargo de vice-presidente da Câmara. O afastamento será discutido hoje, mas, desde ontem, parlamentares da base aliada estão conversando com o presidente da Casa, Henrique Alves (PMDB-RN), para encontrar a solução adequada. Além disso, PPS, PSDB e DEM devem ingressar nesta semana com representação no Conselho de Ética contra o parlamentar do Paraná. Se o processo for aceito, os trabalhos do conselho podem resultar até em um pedido de cassação de mandato.
O que desencadeou as reações foi a divulgação de novas denúncias sobre o envolvimento de Vargas com o doleiro Alberto Youssef. Ele, que está preso em Curitiba, é um dos centros das investigações da Operação Lava Jato, da Polícia Federal, sobre lavagem de dinheiro, evasão de divisas e corrupção, cujos tentáculos chegam à Petrobras (leia ao lado).
Em conversas reservadas, temendo o efeito das denúncias em ano eleitoral, petistas tentam isolar a ação de Vargas, para mostrar que, se houve alguma irregularidade na atuação do paranaense, não foi cometida com o aval do partido. O assunto ainda está sendo debatido nos bastidores, mas há entre os deputados do PT um consenso: Vargas terá de se explicar. Além disso, dizem petistas, não haverá complacência com qualquer erro, diferentemente do que ocorreu com os condenados do mensalão.
Na semana passada, depois da denúncia de que ele usou um jatinho pago por Youssef para viajar de férias, Vargas disse, no plenário, que havia sido “imprudente”. Para a oposição, porém, o paranaense recebeu vantagem indevida, procedimento incompatível com o decoro parlamentar e punível com a perda do mandato, conforme o regimento interno da Câmara.
No fim de semana, a pressão aumentou depois da divulgação de mensagens de texto interceptadas pela PF, nas quais Vargas prometia ajudar Youssef em contratos que o doleiro pretendia fechar com o governo federal (veja quadro). As suspeitas são de que Youssef e o petista sejam sócios do laboratório Labogen, que teria sido usada para fazer remessas de US$ 37 milhões ao exterior, de acordo com as investigações.
Por meio de “contatos políticos” como o de Vargas, o doleiro conseguiu financiamento de R$ 31 milhões do Ministério da Saúde – o acordo foi cancelado na última quinta-feira. Para isso, o Lagoben teria se associado à EMS, laboratório com o maior faturamento no país. A suspeita da PF é que o Labogen, cuja folha de pagamento é de R$ 28 mil, foi usado apenas para pagar propina a servidores públicos, por causa da diferença de porte entre as empresas.
Procurado por telefone durante toda a tarde de ontem, Vargas não atendeu às ligações da reportagem.
Doleiro teria agido em doação para Meurer
Documentos da PF mostram que Alberto Yousseff teria intermediado doações eleitorais para deputados e diretórios do PP e para o PMDB de Rondônia nas eleições de 2010. As negociações foram flagradas com a quebra de sigilo de e-mails do doleiro, nos quais ele trata de doações com representantes das empresas Queiroz Galvão e Jaraguá Equipamentos, ambas fornecedoras da Petrobras. Beneficiário de R$ 500 mil, o paranaense Nelson Meurer (PP) disse que a doação foi recebida após um pedido feito por ele ao diretório nacional do partido. “Até me ligaram para dizer que a Queiroz Galvão só faria a doação de forma legal e eu respondi que era justamente o que eu queria. Foi tudo pelo partido.”
Senador rejeita relatoria para barrar CPI
Das agências
A assessoria do senador Francisco Dornelles (PP-RJ) informou ontem que ele recusou a indição para ser o relator da questão de ordem dos governistas contra a proposta de CPI da Petrobras formulada pela oposição e também da questão de ordem dos oposicionistas contra a CPI proposta por parlamentares da base.
Com isso, um novo relator terá de ser indicado, a tempo de que a decisão da CCJ seja enviada ao plenário para votação na próxima quarta-feira. A regra abre caminho para que os governistas, que são maioria na Casa, tenham a palavra final sobre a instalação das CPIs.
A oposição quer uma CPI no Senado para investigar exclusivamente a Petrobras. Os governistas protocolaram um pedido de CPI para investigar, além da Petrobras, o metrô de São Paulo, o porto de Suape (PE) e a Companhia Energética de Minas Gerais (Cemig), todas empresas de estados administrados pela oposição. Ambos os pedidos foram alvos de questionamentos.
Empreiteiras e outros grandes doadores de campanhas eleitorais, porém, estão pressionando deputados e senadores governistas e da oposição a desistir de investigar no Congresso os negócios da Petrobras e o cartel acusado de fraudar licitações de trens no governo paulista. Segundo o jornal Folha de S. Paulo, parlamentares têm recebido recados de interlocutores das empresas de que uma CPI pode reduzir o “ânimo” dos empresários para financiar candidaturas na campanha deste ano. Eles teriam pedido “bom senso” aos congressistas, lembrando que sempre há o risco de uma CPI sair de controle.