Quinta-feira, 12 de junho de 2014
Última Modificação: 05/09/2018 14:38:48 | Visualizada 163 vezes
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Diante da Croácia, seleção dá o primeiro passo rumo ao desafio de conquistar a Mundial em casa. Governo e Fifa confiam que o sucesso dos anfitriões tende a atenuar a insatisfação popular com o Mundial
Jogar uma Copa põe sobre a seleção brasileira uma cobrança natural por ser a equipe mais vitoriosa do Mundo. O fantasma da derrota em 1950 aumenta a carga por voltar a atuar em casa. Mas o Mundial de 2014, que começa hoje, às 17 horas, contra a Croácia, na Arena Corinthians, traz uma pressão única sobre o time de Luiz Felipe Scolari. O Brasil tem a responsabilidade de salvar a Copa do Mundo de 2014. Uma conta que os jogadores não fizeram, mas receberam a missão de pagar.
No ano passado, as manifestações durante a Copa das Confederações, entre outros motivos, o uso de dinheiro público e o atraso nas obras, já tinham dado um susto no governo federal e na Fifa. Mesmo com milhares de pessoas nas ruas, a organização não conseguiu colocar o Mundial nos trilhos. O reflexo foi a adoção de uma nova estratégia, há cerca de dois meses, que passou a focar exclusivamente no futebol. Primeiro, exaltando a paixão do brasileiro com o jogo. Depois, apostando em um clima mais pacífico a partir do início da competição.
“Estou certo de que, quando o pontapé inicial for dado, todo o país voltará à febre do futebol”, afirmou o presidente da Fifa, Joseph Blatter, na semana passada. “A partir do início da Copa, o ambiente será outro”, disse, no mesmo dia, o ministro do Esporte, Aldo Rebelo.
Ambos sabem que essa calmaria só será possível se o Brasil for bem. Mais precisamente se erguer o troféu no dia 13 de julho, no Maracanã. “Para nós, é sempre melhor que o anfitrião vá longe e vença o torneio”, admitiu o secretário-geral da Fifa, Jérôme Valcke.
Os jogadores acusaram a pressão após o amistoso com o Panamá, em Goiânia. O lateral Daniel Alves disse compreender os problemas do país, mas pediu uma trégua nos protestos durante a Copa. Neymar fez o mesmo. Disse que também tinha vindo de família pobre e que não via sentido em o público vaiar os jogadores.
“O principal jogador da seleção brasileira é a torcida. Se o torcedor estiver 100% ao nosso lado, é difícil ganhar de nós”, explicou Neymar ontem, na entrevista coletiva no Itaquerão. Na chegada ao estádio, o time havia sido recebido com festa por cerca de dois mil torcedores, uma pequena amostra da responsabilidade que pesa sobre os ombros da seleção.
Felipão tentou dividir a carga com alguém fora da delegação. Na terça-feira, ao receber uma carta enviada aos jogadores pela presidente Dilma Rousseff, pediu em resposta que ela esteja em todos os jogos da seleção. Dificilmente terá essa cumplicidade. A petista estará na abertura e na final.
O treinador recorreu, então, a artifícios internos. Uma série de palestras tratou de mostrar ao grupo o feito que será vencer a Copa dentro de casa. A derrota em 50 foi relativizada. Ao invés de tratar como algo único, a estratégia foi buscar o exemplo de outras grandes seleções que também perderam o torneio em casa.
“A Alemanha jogou duas Copas em casa. Ganhou uma, perdeu uma. A Itália jogou duas Copas em casa. Ganhou uma, perdeu uma. Nós jogamos uma Copa em casa, perdemos. Chegou a hora de ganhar”, disse o zagueiro David Luiz, um dos líderes do elenco, no início da preparação do time.
Com o perfil psicológico de cada jogador, Felipão sabe o que bordar com cada um. Conta, ainda, com o suporte dos seus capitães – o oficial, Thiago Silva, e os não-oficiais Júlio César, David Luiz e Fred. “Chegou a hora, gente. Vamos todos juntos. É o nosso Mundial”, conclamou Felipão, pronto para a batalha mais dura já enfrentada pelo Brasil em uma Copa. Exatamente como ele gosta.
Neymar faz tabelinha com Felipão e só fala em ‘ser campeão do mundo’
Neymar fez, ontem, sua primeira tabelinha na Arena Corinthians. Não foi no gramado impecavelmente cortado, mas na sala de entrevistas. Clicado incessantemente por um batalhão de fotógrafos, o camisa 10 da seleção brasileira demonstrou um entrosamento perfeito com o técnico Luiz Felipe Scolari. Encamparam o discurso de que Neymar só será mesmo o craque da competição se o título ficar dentro do país.
“O craque será o campeão. Não adianta ser o craque se não for o campeão. É um objetivo só na Copa: ser campeão”, disse Felipão. “Não quero ser o melhor jogador, não quero ser artilheiro. Quero ser campeão com a minha equipe”, endossou Neymar.
Um discurso que ambos fizeram questão de mostrar na prática. Ao comparar a seleção que levou ao penta em 2002 com a atual, Scolari disse que o sacrifício de Neymar para marcar, algo que não faz no Barcelona, é igual ao de alguns jogadores daquele time. “Estou preparado para ajudar meus companheiros de todas as formas. Sou mais um”, disse Neymar. “O craque que é, sendo mais um, vai despontar e fazer a diferença naturalmente”, complementou Scolari.
Para Neymar, ser a diferença é, necessariamente, marcar gol. Se balançar a rede hoje, encerrará um jejum de 12 jogos da camisa 10 do Brasil. Rivaldo foi o último 10 a fazer gol em Copa, nas quartas de final de 2002, contra a Inglaterra. “Espero que o gol seja o mais fácil possível. Aquelas bolas sem goleiro, sem nada, é só empurrar”, brincou o atacante, que dará para a mãe, Nadine, a camisa que usará em seu primeiro jogo de Copa. Como titular, conforme Felipão deixou claro em outro sinal da sintonia entre os dois.
Um repórter pediu que um fizesse uma pergunta ao outro. “Vou jogador, professor? É para eu dormir bem?”, perguntou Neymar, aos risos. “Será que eu respondo”, brincou o treinador, que trocou sua pergunta por uma afirmação ao craque do time: “Tá escalado”.