Quinta-feira, 10 de julho de 2014
Última Modificação: 05/09/2018 14:38:21 | Visualizada 155 vezes
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Cruzamento de estudos do Sebrae e da Firjan, realizado pela Gazeta do Povo, revela que há uma relação entre o empreendedorismo econômico e bons indicadores sociais
O empreendedorismo é uma característica inerente aos municípios mais desenvolvidos do Paraná. Esse é o resultado do cruzamento de dois estudos feito pela reportagem da Gazeta do Povo. Pelo Índice Firjan de Desenvolvimento Municipal (IFDM) – um dos indicadores mais utilizados para mensurar desenvolvimento econômico e social no país –, são 25 as cidades paranaenses que têm alto grau de desenvolvimento (veja quais no gráfico ao lado). Dessas, 21 estão no topo do ranking do empreendedorismo no estado, de acordo com o Índice de Desenvolvimento Municipal para a Micro e Pequena Empresa, o IDMPE, elaborado pelo Sebrae. A comparação entre os rankings também revela que 15 cidades aparecem simultaneamente entre os 25 primeiros lugares dos dois estudos.
“Há uma alta correlação entre o grau de empreendedorismo e o grau de desenvolvimento social e político de uma cidade. Vemos isso ao comparar nosso estudo com o da Firjan e mesmo com o IDH [Índice de Desenvolvimento Humano, publicado em intervalos de 10 anos]”, diz o economista César Reinaldo Rissete, gerente de Ambiente de Negócios do Sebrae no Paraná.
A conexão, porém, nem sempre é automática. “Há algumas exceções. Algumas cidades podem ter indicadores sociais muito bons, mas não ter o empreendedorismo alto. Isso ocorre pela ação de um ator exclusivo muito forte”, diz a economista Gina Paladino, presidente da Agência Curitiba de Desenvolvimento.
Segundo ela, esse desencontro costuma ocorrer em cidades pequenas e médias, em que o estado ou uma grande empresa torna-se o principal responsável pela movimentação da economia. É o caso do município de Itaipulândia, no Oeste do estado, que aparece na 20.ª colocação no ranking do desenvolvimento da Firjan e apenas na posição 197 no índice que mede o empreendedorismo.
Itaipulândia está entre as 17 cidades do estado que recebem royalties da Itaipu como compensação pela área do município que foi alagada para a formação do lago da hidrelétrica. Somente em 2014, o município recebeu US$ 643 mil, terceiro maior valor entre as 17 cidades beneficiadas com recursos da estatal.
Liderança
Na liderança dos dois estudos está Curitiba. A cidade, segundo Gina Paladino, consegue promover um círculo virtuoso relacionando desenvolvimento e empreendedorismo. “A vitalidade empreendedora de Curitiba deve-se em parte à baixa taxa de desemprego na cidade. Temos um mercado bastante dinâmico que acaba incentivando o empreendedorismo de oportunidade”, diz.
Empreendedorismo de oportunidade é aquele em que o profissional tem uma fonte de renda, identifica uma demanda no mercado e opta pelo empreendimento. Já o empreendedorismo de necessidade é caracterizado por ser a única opção para quem não encontra alternativas no mercado de trabalho. “As cidades ganham mais com o empreendedorismo por oportunidade. Ele tende a ser mais qualificado e estruturado”, explica Sandro Vieira, diretor-presidente do Instituto Brasileiro da Qualidade e Produtividade (IBPQ).
Prefeituras estimulam empresas, e indicadores sociais avançam
No estudo do Sebrae, é possível medir a evolução do Índice de Desenvolvimento Municipal para a Micro e Pequena Empresa (IDMPE) de 2008 até 2012. Os dados mostram a melhora de algumas cidades em quatro anos. O município que apresentou a maior evolução é Saudade do Iguaçu, no Sudoeste do Paraná. O IDMPE da cidade cresceu 19,5% e a cidade ganhou 160 posições no ranking, passando da posição 356 para 196. Com 5,2 mil habitantes, Saudade apostou no apoio público aos pequenos e médios empresários.
“Apoiamos com tudo que podemos. Fornecemos o terreno, barracões e maquinário”, diz Marcelo Schardosin, secretário municipal de Turismo, que esteve à frente da Secretaria da Indústria e Comércio da cidade entre 2008 e 2012. Segundo ele, a prefeitura discute isenções fiscais e tributárias para micro e pequenas empresas.
Cessão de áreas
Outra cidade a dar um salto foi Colombo, na Região Metropolitana de Curitiba. A cidade melhorou seu índice em 14% e passou da 33.ª para a 16.ª colocação no estudo do Sebrae. “Apostamos muito em qualificação e chegamos a ceder áreas para o Senai e o Senac instalarem centros de qualificação. Também fazemos nossa parte melhorando a infraestrutura do município”, diz Antonio Ricardo Milgioransa, secretário da Indústria, Comércio, Turismo e Cultura.
A evolução empreendedora dos dois municípios foi acompanhada de uma melhora nos indicadores sociais e econômicos. Entre 2008 e 2011, Saudade do Iguaçu passou da 202.ª colocação no ranking da Firjan para a 116.ª posição. Colombo saltou da 57.ª para a 51.ª.