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Que falta de educa??o!...

Sexta-feira, 08 de agosto de 2014

Última Modificação: 27/08/2018 18:59:04 | Visualizada 200 vezes


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Norte Pioneiro tem a mais alta taxa de evasão escolar do ensino médio dentre as regiões paranaenses. Falta de qualificação se reflete em empregos piores e mais pobreza na região

 

Aos 14 anos, Larissa de Sou­­za Andrade é uma sobrevivente escolar. Prestes a concluir o 9.º ano, ela pensa em fazer o ensino médio e sonha cursar Administração. Se ela alcançar o objetivo, será a primeira da família a ir para a universidade. Os familiares deixaram os estudos antes de concluí-los. O pai – Marcos, hoje com 35 anos – fugiu de casa aos 16 para viver uma história de amor com a esposa, Rose, cujos os pais não concordavam com o relacionamento. Precisou se virar para sobreviver e largou a escola: “Eu tive que trabalhar”. Os irmãos de Larissa – Luan, de 18 anos, e Neto, de 16 – seguiram o exemplo do pai. Queriam conseguir algum dinheiro para fazer o que todo jovem faz: tomar um sorvete com a namorada, comprar um celular... Eles chegaram a cursar um período do ensino médio. Mas abandonaram a sala de aula para trabalhar.

 

O pai e os dois rapazes saem de casa, em Jataizinho, no Norte Pioneiro, no fim da madrugada e percorrem mais de 30 quilômetros até Cambé, onde trabalham em um frigorífico. Rose, empregada de uma loja, viaja todos os dias para Londrina. Os quatro retornam apenas no fim da tarde, após gastar uma hora e meia por dia em deslocamentos. Para eles, aguentar mais uma jornada dentro da sala de aula está fora de cogitação. “Vi meu pai trabalhar horrores [para manter a família]. A gente se sente na obrigação de ajudar”, resume Luan.

Desqualificação

A família Andrade é um exemplo típico do que ocorre no Norte Pioneiro. Quase 10% de todos os alunos matriculados no ensino médio nas 46 cidades da região desistem de estudar e abandonam o colégio antes de concluir 12 anos de educação. É a mais alta taxa de evasão do Paraná, que tem média de 6,2% de abandono no ensino médio.

O problema da educação acaba se refletindo em outras características do Norte Pioneiro: a pobreza e a falta de emprego (leia mais na página ao lado). Mudar esses indicadores abre a possibilidade de reverter os outros dois e, com isso, melhorar a vida das 562,8 mil pessoas que moram na região.

O coordenador da Pastoral da Criança em Jacarezinho, José Tadeu Cardoso, diz que aumentar a oferta de cursos profissionalizantes pode ser uma saída para qualificar mão de obra e dar mais instrução escolar. “Nossa juventude não tem opção de cursos. Quem quer, precisa ir a Ponta Grossa ou Itararé [SP].”

Para Reginaldo Lacerda de Matos, diretor do Colégio Estadual Pedro Viriato Parigot de Souza, em Jataizinho, é preciso resgatar a importância da escola para diminuir a evasão. Segundo ele, muitos alunos desistem de estudar porque o diploma do ensino médio não garante um emprego melhor – e, em consequência, mais remuneração. “Neste ano, eu tive 150 matrículas para a turma da noite do ensino médio. Cerca de 75 continuam frequentando as aulas.” A cidade tem o maior índice de evasão escolar do Norte Pioneiro: quase 23%.

Arrependimento

Depois de um tempo, quem abandona o colégio arrepende-se. Aconteceu com Marcos de Souza Andrade e a esposa – o casal de Jatai­­zinho. Também ocorreu com Wellington de Jesus dos Santos, morador de Salto do Itararé. A cidade tem as menores notas da região na 9.ª série do ensino fundamental, segundo o Ideb de 2011, e uma alta taxa de evasão do médio. “Nunca pensei em uma profissão. Eu queria comprar uma moto, um tênis. Agora só posso trabalhar em uma confecção [como costureiro] ou na roça.” Casado e pai de duas filhas pequenas, Wellington já tentou quatro vezes voltar a estudar, mas a dificuldade de conciliar com o trabalho o tirou das aulas.

Recentemente, o fechamento da turma do supletivo na cidade piorou a perspectiva de tentar mudar de vida. “Os pais não incentivam, não participam. O salário que [os filhos] recebem, por mais que seja pouco, eles consideram suficiente. E vão se acomodando”, diz Ronaldo Vagacs, diretor do Colégio Estadual Gabriel Bertoni, de Salto de Itararé.

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