Sexta-feira, 03 de outubro de 2014
Última Modificação: 27/08/2018 18:56:35 | Visualizada 176 vezes
Ouvir matéria
Perícia traz indícios de que empresa envolvida com Youssef teria recebido, sem prestar serviços, R$ 3,6 milhões de empreiteira de obras na refinaria de Araucária. Empresa fez repasses ao doleiro em seguida
Laudo de perícia criminal encomendado pela Polícia Federal (PF) revela indícios de que a empresa Sanko-Sider recebeu por serviços não prestados para o Consórcio CNCC, do Grupo Camargo Corrêa, em obras da Petrobras na Refinaria Presidente Getúlio Vargas (Repar), em Araucária, na região metropolitana de Curitiba. A mesma empresa é citada nas investigações da Operação Lava Jato por supostamente ter feito o mesmo na refinaria Abreu e Lima, em Pernambuco. Os valores recebidos também são semelhantes aos que a Sanko repassou, em seguida, a empresas ligadas ao doleiro Alberto Youssef.
Na Repar, os peritos apontam que a Sanko recebeu R$ 3,6 milhões do CNCC mesmo sem comprovação de que a venda de tubulações foi efetivada. A Camargo Corrêa justificou que repassou esse dinheiro à Sanko por serviços prestados que não envolveriam a obra na Repar. Mas documentos apreendidos pela Lava Jato indicam que o pagamento, no mesmo valor e na mesma data, foi contabilizado pela Sanko como serviços prestados na obra da refinaria.
Logo depois de receber o dinheiro, a Sanko fez dois repasses à MO Consultoria, empresa de Youssef, que totalizaram R$ 3,2 milhões. A transação foi documentada em notas fiscais. O procedimento ocorreu em 2009 e foi descrito pela perícia por ser “semelhante” às transações entre as duas empresas na construção da Abreu e Lima, nos anos seguintes.
Ao analisar os dados contábeis da Sanko, os peritos também viram que a empresa possuía um alto nível de endividamento – o que não permitiria a aprovação como fornecedora da Petrobras. Em dois anos, a estatal aceitou balanços financeiros de uma empresa com apenas 33% de participação na Sanko. Em 2013, nenhum balanço foi apresentado. A conclusão foi que o sistema de certificação da Petrobras teria sido “burlado”.
Modus operandi
Em maio deste ano, um relatório de procuradores que atuam no Paraná já apontava que recursos de contratos supostamente superfaturados da Repar teriam abastecido contas de empresas e pessoas investigadas na Lava Jato. O documento indicava suposta “conexão entre os desvios” nas duas refinarias. Um laudo da Polícia Federal concluído em abril diz que as planilhas de contratos da Repar tiveram sobrepreço de R$ 1,4 bilhão.
O mesmo modus operandi que teria ocorrido no Paraná foi identificado pelos peritos nos contratos da refinaria de Pernambuco. A primeira irregularidade detectada no laudo foi o pagamento de R$ 8 milhões pelo CNCC à Sanko em 2010 para fornecimento de tubulação. Mas a primeira nota fiscal só saiu no ano seguinte. O consórcio explicou que o repasse foi adiantado para “acompanhar a produção dos tubos solicitados”. Mas os peritos dizem que, na visita à Sanko e na análise de documentos da empresa, não foram identificados custos alocados diretamente na prestação de serviços.
Repasses
Segundo os peritos, a Sanko recebeu R$ 38,7 milhões do CNCC e fez vários repasses às empresas MO e GFD, entre 2010 e 2013, somando R$ 37,7 milhões. “Os números chamam a atenção em razão de as empresas não possuírem relação direta com a natureza dos serviços supostamente prestados”, diz o relatório. O documento também chama a atenção para a existência de uma “correlação em certos pontos” entre os pagamentos recebidos pela Sanko e o repasse às empresas de Youssef.