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Delegado suspeito pede ajuda de assessor de Richa para ficar no cargo...

Quinta-feira, 22 de agosto de 2013

Última Modificação: 09/06/2020 16:55:54 | Visualizada 224 vezes


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Gravações obtidas com autorização da Justiça mostram ligação entre eles.
Delegado é suspeito de receber propina; assessor é secretário de estado.

Ligações telefônicas gravadas com a autorização da justiça mostram o delegado da Polícia Civil do Paraná, Luiz Carlos Oliveira, negociando a permanência dele na Divisão de Crimes Contra o Patrimônio (DCCP). Na conversa, o interlocutor é Ezequias Moreira, assessor do governador Beto Richa (PSDB) desde a época em que ele era deputado e que atualmente ocupa o cargo de secretário Especial de Cerimonial e Relações Institucionais do governo estadual.

De acordo com o Ministério Público, as gravações foram feitas em fevereiro, quando época em que Oliveira já era investigado por desvios de conduta enquanto ocupava o cargo. O delegado foi apontado pela promotoria de chefiar um esquema de recebimento de propina na época em que comandou a Delegacia de Furtos e Roubos de Veículos de Curitiba.

Oliveira - Fala meu brother?

Ezequias - Fala meu brother. Você me ligou?

Oliveira – Então, deixa eu te falar. Eles estão querendo fazer uma mudança aí, entendeu? Isso em termos internos da Polícia Civil. Eu acho que você pode até falar com o chefe porque anteriormente, quando foi tratado ali, foi combinado comigo que nós iríamos ficar ali onde nós estamos.

Além de passar por essas delegacias, Oliveira também fez parte do Conselho da Polícia Civil. O órgão interno é responsável por deliberar sobre questões estratégicas da corporação. Na terça-feira (20), o delegado afirmou que foi indicado para o conselho pelo próprio governador, informação confirmada em nota enviada pelo Palácio Iguaçu no mesmo dia.

Outro trecho da gravação mostra ainda a proximidade entre Oliveira e Ezequias. Na conversa, o delegado pede que este converse com o então delegado-geral da polícia, Marcus Vinícius Michelotto para mantê-lo no cargo.

Oliveira - Você não daria uma palavra com o nosso Michelotto? Fala, oh, o chefe.. Pergunta, ah, vai ter mudança? Oh, o chefe falou que não quer que mexa com o Luiz Carlos.

Ezequias - Primeiro eu tenho que ver o que eu é, depois... Eu não sei... Eu não estou lá no palácio. Eu não sei se foi combinado alguma coisa, Luiz.

Oliveira - Não, não. Não tem nada com o chefe, não tem nada de nada. É uma coisa lá do Michelotto.

Ezequias - Eu vou dar uma olhada... Depois, se, se falamos (sic)

Oliveira - Dá uma observada nisso, ajuda o teu amigo que está necessitado.

Nesta quarta-feira (21), porém, Richa afirmou não se lembrar de ter nomeado Oliveira para o cargo. “Veja bem, tenho nomeação de mais de 4 mil funcionários. Servidores, de cargos, de representação, gerentes e secretarias, diretores, conselhos, pessoas encarregadas, despachos em diversas secretarias, eu não me lembro, são 4 mil servidores. O importante é o seguinte: nosso governo não tem compromisso com o erro”, afirmou o governador.

Dá uma observada nisso, ajuda o teu amigo que está necessitado."
Luiz Carlos Oliveira

Já o ex-delegado-geral nega ter conversado com Ezequias ou com o próprio Oliveira a respeito da manutenção dele no cargo. O advogado do delegado suspeito diz que o cliente era perseguido dentro da corporação e que não há ilegalidade na conversa entre Oliveira e Ezequias.

O secretário especial Ezequias afirmou que não vai se pronunciar sobre o caso até ter acesso a todo o conteúdo das gravações do Ministério Público.

Entenda o caso
Além de Oliveira, os delegados Gerson Machado, Anderson Franco e Marco Antonio de Goes também são citados na investigação.

No total, 23 pessoas foram denunciadas – quatro delegados, 15 investigadores, um agente de apoio e três comerciantes. Segundo as investigações comandada pelo Grupo de Atuação Especial de Combate ao Crime Organizado (Gaeco), vinculado ao MP, havia um esquema na DFRV da capital paranaense de cobrança de propina paga por donos de lojas de autopeças e ferros-velhos para que policiais e delegados não denunciassem irregularidades como o comércio de peças roubadas e sem notas fiscais.

Na terça-feira, o atual delegado-geral, Riad Braga Farhat, anunciou o afastamento de todos os policiais envolvidos nas denúncias. Conforme o comunicado, eles vão cumprir funções administrativas até que o caso seja esclarecido. Quanto a Oliveira, não foi informado se ele será impedido de retomar as funções.

De acordo com o Gaeco, a média mensal de arrecadação com propina era de R$ 30 mil, chegando a R$ 50 mil em algumas ocasiões. Ainda conforme o Gaeco, em troca de pagamentos mensais, os policiais permitiam que as revendas desmontassem e vendessem as peças de carros roubados em Curitiba e Região Metropolitana. Todos os delegados envolvidos já haviam negado participação no esquema criminoso.

O delegado Cassiano Aufiero, que assumiu a Delegacia de Furtos e Roubos de Veículos de Curitiba há 15 dias, trocou boa parte da equipe de 66 funcionários. Nesse período, 123 carros foram recuperados. “Momento de demonstrar que a polícia está aqui para servir e proteger", pontou Aufiero.

Para o delegado-geral, a troca de 12 investigadores é normal. “Todo delegado gosta de trabalhar com investigadores da sua confiança. Ele já trabalhava com esses investigadores há muito tempo. Ele, lógico, procurou afastar alguns investigadores que ele não confiava. Ele quis trazer com isso o seu método de trabalho. Iisso é natural, e é salutar esse tipo de mudança”

Ladrão de carros confessou esquema
No domingo (18), o programa Fanstástico exibiu imagens exclusivas do pagamento de propina de um comerciante de ferro-velho para um policial civil, além de conversas telefônicas gravadas e depoimentos dos envolvidos ao Ministério Público.

Um ladrão de carros, que está entre as mais de 80 pessoas ouvidas por promotores do Ministério Público, afirmou, em depoimento ao MP, que existia um acordo entre policiais e assaltantes para definir onde carros podiam ser roubados na Região de Curitiba. Ele é uma das testemunhas mais importantes da investigação do Gaeco.

No depoimento, o ladrão de carros confirmou o pagamento aos agentes e contou que policiais iam até a loja pegar o dinheiro em troca do silêncio.  “A hora que eles chegam lá, ele [dono da loja] fala assim: ‘Se esconda, se esconda...’ Aí vinha os polícia (sic) entrando lá pra dentro lá (sic). Para pegar o dinheiro lá”. O assaltante revelou que o dono do desmanche fez um acordo com a polícia para derrubar os índices de roubo de carro na capital do Paraná.

Operação Vortex
Em abril de 2013, o Gaeco e a Corregedoria da Polícia Civil cumpriram 18 mandados judiciais de busca e apreensão em Curitiba e na Região Metropolitana. Na época, três policiais civis foram presos em flagrante por porte de armas sem registro. Noventa e oito mil dólares e munição de uso restrito foram apreendidos com um dos detidos.

As investigações do Gaeco duraram cerca de oito meses com a intenção de apurar suposta corrupção da polícia e ilegalidades relacionadas a desmanche de carros. O foco da operação foi a Divisão de Crimes Contra o Patrimônio, a Delegacia de Furtos e Roubos de Veículos e o 6º Distrito Policial. Os mandados foram cumpridos nessas três unidades, em casas de policiais e comerciantes de ferro-velho e estabelecimentos de revenda de peças de veículos usadas.

 

 

Fonte: G1

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