Sexta-feira, 31 de janeiro de 2014
Última Modificação: 09/06/2020 16:51:31 | Visualizada 312 vezes
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Humor do brasileiro com relação ao Mundial será decisivo para a agenda política. Possibilidade de protestos já mobiliza as campanhas presidenciais
Três dias separam a final da Copa do Mundo no Brasil da data em que fica liberada a realização de propaganda eleitoral (6 de julho). A combinação dessa proximidade com possíveis protestos e o desempenho da seleção em campo indica que o humor do brasileiro após o evento será decisivo para a agenda do debate político. A perspectiva mobiliza desde já as campanhas presidenciais.
No último sábado, 13 capitais registraram protestos contra a Copa. O maior deles, em São Paulo, acabou com 128 presos e um manifestante baleado pela polícia. Pelo menos um novo encontro está programado para o dia 22 de fevereiro na capital paulista.
Em meio à viagem para a Suíça, a presidente Dilma Rousseff convocou uma reunião para tratar do assunto. Nos bastidores, o Palácio do Planalto agiu para manter relativa distância dos novos protestos, em especial o de São Paulo. Coube ao governador de São Paulo, Geraldo Alckmin (PSDB), gerenciar o desgaste e ao pré-candidato tucano à Presidência, Aécio Neves, retrucar: “Vamos ter muito poucas alegrias fora de campo”.
Vice-presidente da Câmara dos Deputados, André Vargas (PT) diz que as manifestações são alvo de monitoramento da campanha presidencial petista e que o partido aprendeu com os protestos de junho de 2013, durante a Copa das Confederações. “Além disso, o PT nasceu do movimento social, sabe fazer essa interlocução”, opina.
No campo
Coordenador do Núcleo Interdisciplinar de Estudos sobre Futebol e Modalidades Lúdicas da Universidade de São Paulo, o historiador Flávio de Campos traça uma possibilidade em que o desempenho técnico da seleção pode ser decisivo para as manifestações. “Caso o Brasil seja eliminado prematuramente, a tendência é que as pessoas descarreguem mais essa insatisfação nas manifestações”, afirma Campos.
Para o professor, será difícil que o brasileiro mude a imagem que vem se consolidando da Copa. “Temos um megaevento tecnocrático, divorciado dos interesses sociais. Aliás, a crítica que os manifestantes vêm fazendo com relação a esse conceito de megaevento é bastante sofisticada”, conclui.
Nas ruas
Luciana Veiga, cientista política da Universidade Federal do Paraná e especialista em pesquisas eleitorais, diz que, pela lógica, os protestos atingem os governantes que concorrem à reeleição, em especial, a presidente Dilma, mas que o processo de decisão do voto vai além desse descontentamento. Ela cita que, mesmo com uma avaliação momentânea ruim, existe uma etapa de comparação com outros nomes. “É algo parecido com o que aconteceu em 2006, com o mensalão. Você via pessoas que se desencantavam com o PT, mas que não confiavam em outro nome que não fosse o Lula”, afirma.
Luciana concorda com a avaliação do historiador Flávio de Campos de que uma eliminação nas primeiras fases da Copa pode intensificar os protestos. “Fica aquela sensação de que, além de estarmos pagando a festa, vamos ver os outros se divertindo.” A tendência é que o Brasil tenha adversários difíceis a partir das oitavas-de-final quando pode enfrentar a atual campeã, Espanha, ou a atual vice, Holanda.